23 de ago. de 2008

Semana em Sampa (parte 4 de 4)

Como todo mundo (não que eu ache que mais que dois sadomasoquistas efetivamente tenham passeado por esse blog) já deve ter percebido, acabaram-se minhas idéias para continuar a não-tão-fantástica-assim saga "Semana em Sampa". Mas, como disse E.J.Hobsbawm (embora eu normalmente prefira as frases de H.J.Simpson ou de O.J.Simpson), a maior parte das pessoas só consegue entender sua vida olhando em retrospecto. E é nesse mote que eu continuo.

Quando deixei minha terra, imaginei que várias coisas iriam acontecer. A maior parte delas não aconteceu. Na verdade, sempre que eu imagino algo, acontece o contrário. Anyway, a única coisa que merece comentário está no fato de eu ter me tornado um apátrida. E para quem sempre reclamou de não ter apelidos, agora eu tenho dois (ou mais), ambos referentes à questão geográfica.

Isso fez com que eu percebesse algo nem-tão-inovador-assim: brasileiros (mais que os americanos, feitos de chacota ao redor do mundo por causa disso) não conhecem NADA de Geografia.

Em niterói, sou chamado apenas de "paulista". Não que isso me irrite. Mas eu não sou o único paulista. Quando gritam "hei paulista!", há sempre, para meu espanto, umas sete pessoas (duas definitivamente não-paulistas) que olham. E por mais que eu diga que eu sou paulistano, ninguém parece notar a diferença entre ambos. Ninguém também parece saber localizar a cidade no mapa.

Para que não digam por aí que sou bairrista, vou contar o que acontece em São Paulo (o que é tanto pior). Numa das primeiras vezes que eu voltei pra lá, algumas pessoas vieram com uma história de "e aí carioca, tudo bom?". Mas como é que eu não percebi? Nasci e fui criado num lugar, mas depois de três meses fora, eu, obviamente, não devo ser ligado àquele lugar. Então me veio um cara que nasceu em Mucugê (espero que seja assim que se escreve), na Bahia e me disse:

- Lógico! Eu nasci na Bahia, mas moro aqui, portanto eu sou paulista.

Tá bom né, vamos dar um crédito, afinal, o cara nasceu em Mucugê, não podemos tirar sarro dessas coisas. Aqui no Brasil (às vezes) é feio tirar sarro de alguém por causa de problemas mentais. Mas é óbvio que um cara que nasceu no interior da Bahia (e não me contradigam!) prefere se dizer paulista. Que mulher iria falar com ele se soubesse que o cara vem de Mucugê? Ele sem dúvida esconde isso de todas elas. Afinal, quem nasce em Mucugê, é o quê? Cagado, né...

Mas, voltando à parte da ignorância brasileira em Geografia, o que chama a atenção é - quem nasce e cresce em São Paulo e mora em Niterói pode ser chamado de inúmeras coisas, menos de carioca. Ninguém lá parece já ter ouvido falar em Niterói. Ninguém no Brasil parece compreender o uso de gentílicos.

Lá vai, em maiúscula, pra não ter engano:
QUEM NASCE NO ESTADO DE SÃO PAULO É PAULISTA, QUEM NASCE NA CAPITAL É PAULISTANO. QUEM NASCE NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO É CARIOCA, QUEM NASCE NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO É FLUMINENSE.


Desconectando.

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